segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Meus Favoritos de 2014 (Circuito Comercial & Festivais)

Top 10 - 2014: Circuito Comercial

1. Cães Errantes (Tsai Ming-Liang)
1. Era Uma Vez em Nova York (James Gray)
3. Avanti Popolo (Michael Wahrmann)
4. O Ciúme (Philippe Garrel)
5. Mommy (Xavier Dolan)
6. O Gebo e a Sombra (Manoel de Oliveira)
7. De Volta ao Jogo (Chad Stahelski)
8. Jersey Boys (Clint Eastwood)
9. O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson)
10. Os Dias com Ele (Maria Clara Escobar)

Top 10 - 2014: Mostras & Festivais

1. Nuits blanches sur la jetée (Paul Vecchiali)
2. Maidan (Sergei Loznitsa)
2. Dos Disparos (Martín Rejtman)
4. Cavalo Dinheiro (Pedro Costa)
5. Bird People (Pascale Ferran)
6. Já Visto Jamais Visto (Andrea Tonacci)
7. O Velho do Restelo (Manoel de Oliveira)
8. The Smell of Us (Larry Clark)
9. Jauja (Lisandro Alonso)
10. Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Melhores do Festival do Rio 2014


Uma rapidinha para atualizar este blog que anda às moscas.

Aproveitando o especial feito pela Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos (clique aqui para ver), elenco abaixo os melhores filmes que vi no Festival do Rio 2014.

Em ordem de preferência e apenas os filmes da safra 2013-2014:

Maïdan: Protestos na Ucrânia (Maidan, 2014, Sergei Loznitsa) *****
Dois Disparos (Dos Disparos, 2014, Martín Rejtman) *****
O Ciúme (La Jalousie, 2013, Philippe Garrel) *****
Cavalo Dinheiro (Cavalo Dinheiro, 2014, Pedro Costa) ****
Pessoas-pássaro (Bird People, 2014, Pascale Ferran) ****
O Cheiro da Gente (The Smell of Us, 2014, Larry Clark) ****
Sobrevivente (Sanda, 2014, Jung-bum Park) ***
Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014, Richard Linklater) ***
Um Verão de Liberdade (Freedom Summer, 2013, Stanley Nelson) ***
Infância (Infância, 2014, Domingos Oliveira) ***
Corações Famintos (Hungry Hearts, 2014, Saverio Costanzo) **
Sangue Azul (Sangue Azul, 2014, Lírio Ferreira) **

Além desses, vi dois clássicos: O Ano do Dragão (1985), de Michael Cimino, e A Máquina de Matar Pessoas Más (1952), de Roberto Rossellini. Ambos incríveis.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Alguns comentários #5

Eu quero intimidade.


A Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos (SBBC) e seus integrantes realizaram no último dia 11 uma homenagem a Eduardo Coutinho, o maior documentarista que o Brasil já teve. Inovador e um exímio dominador da linguagem cinematográfica, foi homenageado com uma filmografia comentada na página oficial da Sociedade. Eu, recente integrante, colaborei com um excerto sobre o filme O Fim e o Princípio (2005), um de seus melhores, dentro de uma filmografia excepcional na qual é impossível eleger apenas uma obra-prima.

Eduardo Coutinho sabemos era um gênio. Daqueles que não precisava de muito para fazer um bom filme. Uma JVC portátil de mão e um ajudante. Pronto: Coutinho já poderia fazer sua mágica. Não precisava de roteiro. Chegava na locação de filmagem e já fazia o que tinha que fazer. E fazia bem. Coutinho é daqueles que não poderia ser outra coisa a não ser Coutinho. Ninguém fazia ou faz por ele, pois ninguém tem a essência Coutinho. Claro que seus feitos servirão de ensinamentos para outros, mas da maneira como ele fazia não mais.

Saber de sua morte naquele fatídico 2 de fevereiro foi impactante. Nunca antes na história da minha vida pude presenciar tamanha tristeza em mim frente a uma tragédia envolvendo entidades do cinema. E foi incrível, pois naquele mesmo dia era anunciada o falecimento também de Philip Seymour Hoffman - talvez o melhor ator de sua geração até este ano. Uma perda lastimável para o cinema, assim como Coutinho. Saber que Hoffman poderia ter feito mais trabalhos grandiosos à la O Mestre (The Master, 2012), de Paul Thomas Anderson, ou até mesmo se superar e apresentar algum outro trabalho magnífico, me deixa muito frustrado. Entretanto, naquele fatídico dia, só Coutinho habitava minha cabeça. Lembro de não acreditar na noticia quando vi pelo portal R7 na internet. Corri para a televisão em busca de canais de notícias 24 horas, mas nada. A angústia para saber se era verdade a notícia me corroeu por alguns minutos. E então, quando foi confirmada a morte por vários outros veículos de comunicação, uma onda avassaladora tomou conta de mim. Chorei, chorei e chorei.

A ânsia de saber que poderíamos por mais alguns anos ter mais Coutinho na tela de cinema me frusta. Eu, eu mesmo, que havia tido contato muito próximo com ele na última Mostra Internacional de Cinema - a qual, inclusive, o homenageou - estava com o coração partido. Não sou parente nem algo parecido para ter tristeza maior, mas o sentimento que tive foi tão forte que era como se eu tivesse sentido o sofrimento do Cinema naquele instante.

O tempo passa e logo vi muitas mostras em sua homenagem e pessoas se movimentando tentando espalhar para outros seus filmes e suas ideias. Hoje percebo que a tristeza já foi embora e que no lugar dela está a felicidade. Sim, a felicidade na sua forma mais plena. A plenitude de Coutinho sobreviveu a este mundo e está em seus filmes. Está em nós. Coutinho estará sempre vivo em nossos dias.

Eduardo Coutinho, PRESENTE!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Alguns comentários #4

Quem amou o cinema mais do que Cosme Alves Neto?

Talvez o documentário de Aurélio Michiles, "Tudo por Amor ao Cinema!", exista para oferecer a resposta a essa pergunta.

Ninguém – é a resposta.

(Excerto retirado da publicação "Por Amor ao Cinema" da coluna do Inácio Araújo na Folha de S. Paulo)

Cosme Alves Neto tem sua história e não vou aqui negá-la de maneira alguma. Mas o estatuto de quem mais amou o cinema não pode ir a ele. Que me desculpem os opositores, mas quem mais amou e ama ainda o cinema sou eu. Estou aqui para reivindicar esse posto. Muito dificilmente - digo, de fato impossível - alguém que tenha realmente se emocionado e chorado após reconhecer tal beleza ímpar, pura, derivada de tal grandeza de espírito em uma cena específica e reveladora de filmes de diretores como F. W. Murnau, Howard Hawks, Kenji Mizoguchi, Ingmar Bergman, Jean-Luc Godard ou Hou Hsiao-Hsien como eu. Repito: impossível mesmo. Até em casos onde se possa enxergar um monumento de significados, aqueles momentos em que o poder de síntese dos universais, do autor-realizador, frente a histórias particulares cotidianas e banais se mostra com excelência - só eu senti e posso descrever tal experiência. Apenas eu consegui atingir o âmago do ser cinema. Apenas eu compreendo a totalidade e a potencialidade interna e externa da sétima arte. Entretanto, também compreendo e tenho completa consciência da atualidade, ou seja, do ato puro do cinema. Só eu consigo canalizar as forças das imagens que extrapolam a tela da sala de cinema. Não por menos que eu sou cinema e, por consequência, o cinema é eu. Por isso venho por meio deste reivindicar tal posto.

Poesia e brincadeiras à parte, é claro que todos os cinéfilos que tem por paixão primeira o cinema se identificou com o texto acima (era a pretensão, tomara que tenha funcionado). Quero aqui convocá-los, vocês cinéfilos verdadeiros, a reivindicar também tal posto. Mas também quero convocá-los para ganhar o espaço: o espaço das salas de cinemas, essas salas que estão cada vez mais vazias - vazias de cinéfilos verdadeiros. Vamos ocupar, resistir e fazer valer as mostras de cinema que estão rolando nesse Brasil.

Apesar da cultura cinematográfica ainda estar muito concentrada na região sudeste, é grave a ausência do cinéfilo nas mostras do eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Contei muito rapidamente agora só neste mês mostras muito interessantes e relevantes no MAM (RJ), Cinemateca Brasileira (SP), CineSesc (SP), Caixa Cultural (RJ), Centro Cultural São Paulo (SP), Memorial da América Latina (SP), Instituto Moreira Salles (RJ), Cinusp/Maria Antônia (SP), Aliança Francesa (RJ), CCBB (SP), CCBB (RJ), Museu da Imagem e do Som (SP), Club Transatlântico (SP) e nos Sesc's São Paulo Ipiranga, Santana e Vila Mariana.

Uma pesquisa muito rápida já me deu todos esses estabelecimentos e, por isso, não posso generalizar dizendo que não há público e nem reduzir as mostras só ao eixo sudeste - Recife está aí para nos mostrar que o cinema nordestino é muito forte - mas este é o ponto: no nordeste ou no sudeste, cadê os cinéfilos verdadeiros?

Aproveitando o ensejo e já que estamos falando, em certa parte, de amor ao cinema, tenho que aqui expressar a minha imensa felicidade por ter sido um dos escolhidos da seleção 2014 para integrar a Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos (SBBC). Bastante respeitada e já com sete anos de vida, a SBBC foi criada com o objetivo de unificar e organizar os blogs de cinema, afim de adquirir respeito e reconhecimento pelos trabalhos feitos pelos blogueiros, que, claro, possuem bastante competência profissional e potência de influência. Criada pelos esforços de Otavio Almeida com a colaboração de Kamila Azevedo, atualmente a SBBC é composta por 78 membros. Em breve explicito mais novidades sobre as atividades da SBBC aqui no blog.

sábado, 29 de março de 2014

Alguns comentários #3

O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.                                                                                                                                                                                                                                                                     Protágoras de Abdera (490-421a.C.)


Como pensar hoje a estética? E a política? A tendência me parece é sempre pensar as duas palavras separadas, tentando relacionar estética somente às práticas artísticas, como música e literatura, e a política somente às eleições partidárias e debates ideológicos, como direita versus esquerda. De certo para um debate mais atual sobre essas duas concepções se faz necessário evocar o filósofo Jacques Rancière após sua formulação de partilha do sensível.

Francês ainda vivo e professor emérito da Université de Paris VIII (Saint-Denis), Rancière vem contribuindo de maneira significativa para o debate em torno da estética, principalmente para o cinema. E é por isso que eu o trago aqui para o blog. Tendo algumas de suas obras publicadas aqui no Brasil pela Editora 34, Contraponto e Martins Fontes, o filósofo veio ao Brasil recentemente (num seminário em sua homenagem realizado na UFRJ em 2012) e já teve textos publicados pelo jornal Folha de São Paulo.

Rancière lida com a partilha do sensível em mais de uma obra, mas é certamente com a publicação de Le partage du sensible, em 2000, que se solidifica definitivamente esse seu conceito: “Denomino partilha do sensível o sistema de evidências sensíveis que revela, ao mesmo tempo, a existência de um comum e dos recortes que nele definem lugares e partes respectivas. Uma partilha do sensível fixa portanto, ao mesmo tempo, um comum partilhado e partes exclusivas. Essa repartição das partes e dos lugares se funda numa partilha dos espaços, tempos e atividades que determina propriamente a maneira como um comum se presta à participação e como uns e outros tomam parte nessa partilha.”

Fazendo analogia com a estética transcendental de Kant, em que percebemos a priori o espaço e o tempo, ou seja, o espaço e o tempo são formas puras da intuição sensível, são condições necessárias de possibilidade dos fenômenos, Rancière postula a ideia de que já estamos na partilha do sensível quando nos damos conta de nós. E é por isso que a política e a estética terão que ser ressignificadas.

Relendo Platão, Rancière falará que a partilha do sensível “faz ver quem pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce”, assim, nesse sentido, a política e a estética aparecerão juntas, simultaneamente. E a definição de uma também caberá à outra, a saber, “A política[/estética] ocupa-se do que se vê e do que se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do tempo.”

Portanto, ao fazer isso, Ranciére abre um novo campo para pensar as práticas artísticas – a partir dessa definição primeira de estética – e, em especial, o cinema. Aliás, posso falar sobre isso num futuro bem próximo, mas a intenção neste momento é só para deixar claro quanto ao que eu disse no post anterior sobre cinema político ou adentrar na discussão sobre o que é político no cinema. Pois pode parecer óbvio para outrem quando se diz que tal filme é político porque retrata uma corrida eleitoral-presidencial, por exemplo, mas para mim não é, por eu compartilhar totalmente com essa ideia que acabei de expor. Para mim, a política tem um significado muito mais amplo, mais geral, do que este do senso comum.

Bibliografia:
Rancière, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: Editora 34, 2009 (2ª edição), páginas 15-17.

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